quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A chave de fenda

Pedro sempre voltava do trabalho perdendo o stress que ganhara durante o dia, mas nem sempre as coisas funcionavam do jeito que ele gostaria. Somente por seus pensamentos

A pé.

Enquanto andava na rua lembrara de todos os que gritaram com ele o dia inteiro, e a cada passo a voz simplesmente sumia de sua cabeça (por isso ainda não havia pedido demissão) . De todos os pensamentos que lhe passavam na cabeça o mais chato era “porquê essas pessoas ficam olhando uma para as outras?” e achava engraçado olhar de volta com uma cara de mau, creio que somente para passar a ideia de que também teve um dia difícil.

No primeiro ônibus.

Uma lata de sardinha tem mais espaço do que um ônibus às 18:00 em qualquer cidade grande! dependurado na porta ia curtindo o som que sempre o transporta para o refúgio de seu quarto, o único lugar em que realmente se sente a vontade. Cartão vai, guri desce, ainda com olhares, mas com o “foda-se” ligado.

Segundo ônibus.

Parado na roleta ficou observando a mistura de pessoas ali dentro. O que será que essas pessoas fazem da vida? Aquele cara de terno ali, pode ser um marido que trai a esposa com outras mulheres (ou homens) e volta para casa com um presentinho qualquer para os filhos sentirem sua presença, a pesar de estarem dormindo… ou talvez tenha vinte e poucos anos e a ideia de casamento nem passa pela mente. E aquela mulher linda no mini vestido? Puta? vai saber, quem vê ali não sabe nem 1 lasca da vida de ninguém.

Terceiro ônibus.

Parado na porta do meio, ônibus meio cheio, vaga um lugar e a moça insiste para que ele se sente, após recusar várias vezes ela se senta. Eis que ao olhar para próximo da porta ele a avista, azul, média, quase imóvel. De onde raios veio essa chave de fenda? Que importa? O melhor de tudo, é que quase ninguém a notava, estava ali, completamente solitária e o mais importante, intocável pelos pensamentos alheios.

Foi a partir disso que Pedro, quando cansado do mundo, lembra da chave de fenda, e sempre arruma um jeito para ficar igual a ela, praticando ao extremo sua individualidade, sentando em lugares únicos para não ficar perto de ninguém, ficando no lugar mais afastado do ponto de ônibus, somente para ter um pouco de paz, e assim conseguir manter seu emprego.

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